O Escândalo de Simulação de Cartão Amarelo e a Transformação do Esporte

O que se suspeitava foi praticamente confirmado recentemente. Bruno Henrique, o atacante do Flamengo, foi indiciado pela Polícia Federal por suposta simulação de cartão amarelo. Conversas vazadas do jogador com seus familiares sugerem a possível fraude durante um dos jogos contra o Santos pelo Brasileirão 2023.

A repercussão da notícia estendeu-se pelo país, sendo amplamente coberta por renomados portais como Marca, Olé, Tyc Sports, El País, Record, entre outros. Apesar do escândalo, o Flamengo adotou uma postura mais comedida e, surpreendentemente, planeja escalar BH na partida contra o Juventude pela terceira rodada da Série A.

Pode parecer uma posição controversa, no entanto, vamos refletir sobre o assunto. No fundo, Bruno Henrique é apenas um sintoma de um problema maior do que ele mesmo. A explicação é simples: a comercialização intensa do esporte como um negócio lucrativo (mesmo sendo um processo inevitável no contexto capitalista) abre caminho para esse tipo de situação.

Imaginem-se na pele de um jogador. Diante da oportunidade de beneficiar seus familiares e amigos com algo tão trivial quanto simular uma falta, quem não se sentiria tentado?

Não estamos aqui para justificar atividades ilegais, ressalte-se. No entanto, considerando que as apostas esportivas são incessantemente promovidas através de propagandas invasivas e estampas ostensivas nas camisas dos nossos times (que, querendo ou não, podem beneficiá-los), elas se tornam parte integrante do nosso cotidiano.

No Brasil, em particular, as estruturas para combater esse tipo de conduta estão defasadas, seja do ponto de vista legislativo ou educacional. Além disso, não faz parte da nossa cultura repreender com rigor, como evidenciado pela reação geral à forma como a Federação Inglesa tratou o caso de Lucas Paquetá. Banir alguém do futebol? Passou dos limites…

E tem mais: isso faz parte da realidade, infelizmente. Obviamente, as apostas têm ampliado a incidência de comportamentos ilícitos em campo, mas eles já existiam. As conhecidas malas brancas e pretas são exemplos claros disso. A questão é bastante complexa.

Precisamos dificultar a prática dessas ações e impedir que qualquer situação de jogo se torne uma oportunidade de lucro, por mais atraente que possa parecer. Além de coibir irregularidades, podemos resgatar a essência do futebol, livre das restrições impostas pelas apostas.

E, é claro, exigir leis eficazes e medidas educativas que promovam a verdadeira essência do esporte. O caso de Bruno Henrique é apenas a ponta do iceberg. Lidar com essas questões pode parecer uma batalha perdida, mas é uma luta que não podemos abandonar.

Simulação de cartão amarelo durante jogo de futebol