Em um desporto como o futebol, onde o objetivo principal é marcar golos, o conceito de equipes vencendo sem sequer chutar na direção da baliza adversária pode parecer surpreendente. Contudo, esse fenômeno peculiar e raro já ocorreu em diversas ocasiões, provocando debates acerca de estratégias, eficácia e, claro, sorte.
Este artigo tem como propósito explorar as razões e circunstâncias por trás dessas situações incomuns, o que elas podem indicar sobre o futebol contemporâneo e as lições que podem ser extraídas por torcedores, analistas e até mesmo treinadores. Prepare-se para compreender como vitórias sem remates à baliza podem se concretizar e o que esse fenômeno revela sobre o desporto-rei.
A lógica do futebol sugere que a marcação de gols é essencial para a vitória. No entanto, existem exceções. Uma equipe pode triunfar em um jogo sem efetuar nenhum remate na baliza adversária se o único tento da partida for um autogolo do oponente. Embora seja uma situação incomum, já ocorreu em diferentes competições de futebol ao redor do mundo.
Além disso, vitórias conquistadas através de cobranças de pênaltis após um empate no tempo regulamentar e na prorrogação também se enquadram nessa categoria peculiar, uma vez que os penáltis não são considerados remates durante o decorrer do jogo. Nessas circunstâncias, a equipe pode passar toda a partida sem rematar à baliza e ainda assim sair vitoriosa.
Sim. O caso mais notório ocorreu em 2019, durante um jogo da MLS (Major League Soccer). O Chicago Fire foi derrotado pelo Vancouver Whitecaps por 1 a 0, mesmo sem a equipe canadense efetuar um único remate à baliza. O único golo do confronto foi um autogolo de um defensor do Chicago. No relatório estatístico da partida, o Vancouver encerrou o jogo sem remates certeiros e saiu vitorioso.
Existem também casos semelhantes em ligas de menor expressão, copas nacionais e até mesmo em jogos das categorias de base. Com a disseminação dos dados no futebol moderno, esses registos ganharam mais visibilidade. É importante salientar que a definição de "remate à baliza" pode variar ligeiramente entre plataformas de análise como Opta, SofaScore e WhoScored, mas o conceito essencial permanece o mesmo: um remate que resultaria em golo se não fosse defendido.
A estatística no futebol auxilia na compreensão do jogo, porém pode conduzir a interpretações equivocadas quando retirada do contexto. Uma equipe que vence sem efetuar qualquer remate à baliza desafia a lógica do expected goals (xG), uma métrica que estima quantas oportunidades reais de golo uma equipa criou.
Quando um time sai vitorioso sem qualquer remate, o xG tende a ser 0.00, o que evidencia uma ineficácia total no ataque, ou uma dependência absoluta do erro do adversário. Este cenário provoca debates interessantes: será mérito ou pura sorte? Para alguns analistas, isso realça a importância de uma defesa sólida. Para outros, indica uma anomalia que não deve ser valorizada taticamente.
Na prática, nenhum treinador formula uma estratégia com o intuito de vencer sem atacar. No entanto, existem equipas que privilegiam sistemas ultradefensivos, focando em não sofrer golos e explorar ao máximo as falhas do adversário. Este tipo de abordagem, conhecida como “retranca”, almeja levar o jogo para os penáltis ou manter o empate até que ocorra um erro do oponente.
Nestes esquemas, o ataque passa a um plano secundário. Em jogos a eliminar, essa pode ser uma estratégia deliberada, especialmente quando o adversário é significativamente superior tecnicamente. Contudo, depender de um autogolo ou de uma disputa de penáltis para vencer requer muita sorte e total foco na defesa.
As vitórias sem rematar à baliza suscitam reações diversas. Para os adeptos, os sentimentos podem oscilar entre alívio e frustração, particularmente se a equipe jogou mal e mesmo assim saiu vitoriosa. Na imprensa desportiva, estas partidas se tornam manchetes devido à sua raridade e peculiaridade, geralmente acompanhadas de críticas ao desempenho ofensivo e elogios à eficácia (ou sorte).
Analistas e comentaristas costumam recorrer a esses exemplos para debater a imprevisibilidade do futebol e a fragilidade de algumas estatísticas. Afinal, mesmo sem criar oportunidades, é possível conquistar os três pontos. Essa realidade também alimenta discussões sobre justiça desportiva, visto que uma equipe que domina inteiramente pode acabar perdendo devido a um erro isolado.
O futebol, por sua natureza, é um desporto de baixa pontuação, onde o acaso pode desempenhar um papel crucial. Vencer sem rematar à baliza expõe esse aspecto imprevisível. Em ligas altamente competitivas, mesmo as estratégias mais bem pensadas podem ser arruinadas por uma falha individual ou um erro técnico do adversário.
Essa realidade também reaviva a discussão sobre eficácia versus volume de jogo. Nem sempre a equipa mais ofensiva sai vitoriosa. E, apesar de raro, vencer sem atacar demonstra como o resultado pode não refletir o desempenho em campo. É um lembrete de que o futebol, em muitos aspetos, continua a ser um jogo de momentos — e nem sempre de lógica.